sexta-feira, 22 de julho de 2011

Nanquim Incendiário, Talento Inestimável

Por Leonardo Fraga Teixeira

Imagine você que tem um grande sonho de montar seu próprio negócio, para poder trabalhar com algo que realmente goste. Sozinho já é difícil, mas através de uma idéia, consegue juntar algumas pessoas com o mesmo desejo, almejando fazer a mesma coisa. Esta união, só pode ter um resultado: sucesso. Foi isso que Fernando Lucas Dutra procurou fazer, após jogar tudo pro alto e buscar montar o Estúdio de Arte Nanquim Incendiário.

Confuso? É, não é simples montar um negócio próprio, muito menos contar uma história sobre isso. Pois, o negócio do Fernando é justamente esse, contar histórias, através de quadrinhos. Desde pequeno, em Porto Alegre sua cidade natal, Fernando gostava de desenhar e principalmente, aprender e se aperfeiçoar. Recebia também, muito apoio de seus professores, principalmente de artes, insistia muito para visitar o estúdio de arte de um deles, querendo aprender tudo o que podia.

Fernando Lucas Dutra
As histórias em quadrinhos no Brasil, surgiram a partir do século XIX, através do estilo cartum, caricatura e depois as tiras, que satirizavam o governo e situações populares. Apesar do país contar com grandes artistas durante a história, a influência estrangeira sempre foi muito grande nessa área, com o mercado editorial dominado pelas publicações americanas, européias e japonesas. O estilo comics dos super heróis americanos é o predominante. Artistas brasileiros tem se destacado neste estilo, conquistando fama internacional, como Roger Cruz que desenhou X-Men e Mike Deodato que desenhou Thor, Mulher Maravilha e outros.


Em 1992, com 13 anos, Fernando e sua família foram morar em Tubarão.Um tempo depois começou a trabalhar em um estúdio de arte, fazendo animação gráfica. Um dia, abarrotado de trabalho e sabendo que a equipe não daria conta dos prazos de entrega, Fernando comentou com um colega que lhe ensinava alguns passos de software, “cara, se neste momento tivéssemos uma dúzia de amigos artistas, daí sim toda essa loucura valeria a pena”. O colega, cético, desconversou dizendo que a cidade não oferecia tantos artistas e que teriam que abrir empresa se contratassem mais funcionários. Fernando, ouvindo tantas palavras negativas, ficou calado por um tempo, pois também sabia das dificuldades do ramo.

O mercado de quadrinhos brasileiro é fraco. No Japão, a Weekly Shonen Jump, teve uma circulação de 2,8 milhões de cópias por semana. Enquanto no Brasil, foram impressos cerca de 375 mil exemplares por mês da revista Turma da Mônica jovem, sucesso de vendas nacional. São 30 exemplares da Weekly Shonen Jump para cada Turma da Mônica Jovem. Na França e na Bélgica, a indústria dos quadrinhos movimentaram 320 milhões de Euros em 2009. O mercado brasileiro de quadrinhos não é grande o suficiente para permitir que um autor viva exclusivamente da venda de seus gibis em território nacional (Maurício de Sousa é uma exceção), ou seja, viver de quadrinhos é difícil para os autores nacionais há muitos anos.

Mas isso não impediu Fernando. No dia seguinte, pensou muito sobre as ideias que tivera, até que se deixou levar, “se é da criatividade que vivo, vou por em prática minhas ideias”. Deixou o estúdio onde trabalhava e começou a trabalhar autônomo. Teve muita dificuldade para conquistar seu espaço. Ganhava somente para sobreviver, através de trabalhos para agências, fazendo charges, animações e cartuns. Após persistir muito, sempre apresentando um trabalho de qualidade, os clientes começaram a aparecer cada vez mais. Desenvolveu um método para fazer animações muito rápido, ganhando o pseudônimo de “Nanquim Incendiário”, que é o nome de seu estúdio também.

Muitas pessoas já gostavam de quadrinhos em Tubarão, que além de comprar as revistas, desenhavam. Mas faltava um lugar onde poderiam desenvolver esse gosto pela arte e aperfeiçoar suas técnicas. Foi este pessoal que Fernando focou para montar a Associação dos Artistas Nanquim Incendiário. Passou dois anos procurando, através da internet, especificamente pelo Orkut.

Fernando queria que estas pessoas, que como ele, gostavam de desenhar quadrinhos, transformassem esta paixão em ganho. Assim, começaram a criar quadrinhos e vender em uma espécie de mercado interno, onde as histórias que eram produzidas pelos associados, eram comercializadas entre eles e estes vendiam para quem quisessem. Quando estes vendessem suas edições, ajudavam a vender os quadrinhos de outro associado.



Este mercado interno começou a dar retorno, assim Fernando criou a escola de arte, onde forma novos alunos, que querem produzir seus próprios quadrinhos. Este mercado interno, ajuda os artistas a terem um ganho com suas obras e evoluírem suas técnicas. “Isso faz que além de não depender do mercado nacional de quadrinhos, estes artistas possam ganhar dinheiro e evoluírem seus trabalhos, ao invés de querer ir trabalhar na Marvel (um grande estúdio americano), o aluno tem que ser a Marvel”, ressalta Fernando.

Os artistas que se destacam na associação, podem vir a trabalhar no estúdio, onde Fernando produz animações gráficas e outros materiais para TV e publicidade. A escola tem cerca de 20 alunos, tendo aulas na quarta, quinta, sexta e sábado na Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Tubarão. Para Fernando, hoje consegue viver tranquilamente de sua arte. “É preciso quebrar esse tabu, de que quadrinhos são feitos para o público infantil. Só não vende quadrinhos quem não quer”, fala Fernando, que é a prova viva, de que com coragem e espírito empreendedor, podemos além de realizar, viver dos nossos sonhos.

Do dia 21 a 24 de Julho, o Estúdio fará um workshop no Farol Shopping em Tubarão, onde apresentarão o seu trabalho, caricaturas, animação gráfica e revistas em quadrinhos. Não pode perder hein!





Mais Informações: http://www.nanquimincendiario.com.br/

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