quinta-feira, 31 de março de 2011

Kevin Carter e o retrato da fome e injustiça na África

O fotógrafo sul-africano Kevin Carter retratou durante toda sua carreira, o lado mais cru da África como a fome e a injustiça. Carter nasceu na época do Apartheid na África do Sul, e via durante sua infância que a diferença entre os meninos negros e ele, um menino branco, era abismal.
Tornou-se jornalista e a câmera virou sua arma, para lutar contra o Apartheid. Tatuou a imagem do continente africano em seu braço pálido e saiu em busca de fotografias que pudessem fazer o mundo enxergar que, o que estava acontecendo dentro e ao redor de Johannesburgo, estava muito mais além do que se via em guias de viagem para turistas.

Em 1984, o Jornal The Star Johannesburg o contratou e enviou Carter imediatamente para a periferia da cidade, para um gueto, onde jovens militantes negros que estavam fazendo uma revolta contra a opressão do governo em evitar uma transição democrática normal.
A violência explodiu na periferia, e Carter considerava incompreensível as diferenças. Na cidade a calmaria e desinteresse e nos guetos a violência generalizada.
Johanesburgo era envolta em uma bolha hipócrita, e o jornalista queria romper essa bolha com suas fotos, e não hesitava em retratar o mais fielmente possível o que estava acontecendo fora dos holofotes e ruas limpas da cidade.
Morte, destruição, sangue, violência desenfreada, os guetos foram tomados pela anarquia degenerada, que aumentou ainda mais quando Nelson Mandela foi libertado da prisão, em um gesto radical que muitos erroneamente entenderam como um sinal para lutar até o fim.


Em 1990, Carter e outros fotógrafos montaram um grupo chamado "Bang Bang Club". Eles não hesitavam em ir onde havia tiros, coquetéis de fogo e corpos de pessoas espalhados.
Aguns os consideram corajosos defensores da liberdade, outros os acusam de inconscientes, mas isso é história.

Todas as tribos negras envolvidas na escalada da violência, incentivada pelos brancos, davam luz verde para eles tirarem fotos, mas não para os fotógrafos da imprensa estrangeira que clamavam para pertencer ao seleto clube. Eles foram fotógrafos de guerra, com lama e suor, se jogavam no chão e se esquivavam de balas, rastejando entre o sangue para tirar fotografias.


Entre os fotógrafos do Bang Bang Club, Ken Oosterbroek, foi o melhor amigo de Carter. Oosterbroek havia se tornado rapidamente um fotógrafo na referência mundial. Suas fotografias recebiam críticas muito boas na imprensa e foi mesmo considerado o melhor fotógrafo de sua geração e uma estrela em ascensão.
Os membros do Bang Bang Club colocavam um escudo emocional, para não deixar o que viam através da lente atravessar a câmera, senão prejudicaria a qualidade e não poderia mostrar ao mundo o que estava acontecendo.
Ken Oosterbroek
A credibiidade e a responsabilidade foram transferidas para evitar o contato emocional que estava diante deles, algo extremamente difícil, mas nunca pararam de tentar.
Oosterbroek e Carter falavam muito sobre isso. Sua amizade foi forjada entre balas e morte, e nas noites em que estavam cobrindo algo, ambos sabiam que tinham que dar a vida para a África, era a única maneira de  fazer um bom trabalho. 
Após uma pausa, Carter foi para a guerra do Sudão, tentando conscientizar o mundo do que estava acontecendo lá, e como a fome e a doença iriam acabar com um país onde o governo entregou armas para alimentar seu povo.


Corria o ano de 1993, quando Carter viajou a uma aldeia do Sudão e captou uma imagem que virou o rosto da fome na África. A fotografia que tornou Carter famoso apresentava a imagem de um garoto desnutrido prostrado no solo, espreitado por um abutre, esperando sua morte iminente. Depois de mostrar a imagem ao mundo, o fotógrafo foi severamente criticado por não ter feito nada pelo menor, mas mesmo assim ainda ganhou o Pulitzer, o Oscar do Jornalismo.
Carter desmentia que se aproveitou da situação, disse que a menina logo depois foi para um ambrigo em segurança. O nome da criança era Kong Nyong. 
Os pais do menor comentaram que Kong Nyong não caiu nas garras do abutre nem morreu de fome, mas morreu a alguns anos, por causa de uma febre alta causada por uma infecção. De fato, na foto é possível ver que aquele bebê tinha uma pulseira de plástico com a inscrição T3 que era usada pela ONU nos lugares onde assistia e alimentava crianças desnutridas. Este fato desmente o mito de que o fotógrafo sul-africano teria abandonado o menor a própria sorte. 

Pai de Kong Nyong
No dia da cerimônia de premiação do Pulitzer, Ken Oosterbroek, seu melhor amigo, morreu vítima de uma arma de fogo disparada contra uma multidão nos arredores de Johanesburgo.
Carter não se perdoou. Não sorriu na frente das câmeras durante a cerimônia do prêmio, queria estar atrás de barricadas, com seu amigo Ken. 
Algumas semanas mais tarde, em 27 de julho de 1994, Carter foi a um parque, onde brincava quando era pequeno. Ali, ouvindo música, ao lado de um pequeno lago e árvores verdejantes, inalou monóxido de carbono, através de um tubo de borracha ligado ao escapamento do seu carro e tirou a própria vida. 

Tinha 33 anos e em seu bilhete de suicídio estava o seguinte:

"Estou deprimido, sem telefone, sem dinheiro para o aluguel, sem dinheiro para a manutenção dos filhos, para as dívidas. Dinheiro! Estou atormentado pelas lembranças vividas dos assassinatos e dos cadáveres da ira e da dor... Das crianças feridas e que morrem de fome, dos loucos do gatilho leve, com frequência da polícia, dos assassinos e verdugos."

Da mesma forma, como podemos ler em seu bilhete de despedida, Carter nunca disse que estava se suicidando por causa da morte do garoto do abutre, mas a mídia da época aproveitou o fato para dar uma conotação mais dramática à sua morte. 
A fotografia de Carter acabou se tornando uma das primeiras tentativas de fazer com que o mundo virasse os olhos para o que acontecia na África e que infelizmente continua acontecendo. Fosse qual fosse a intenção de Carter, a fotografia teve e tem sua importância histórica.

Kevin Carter
Mais informações: El Mundo
                             Pulitzer 




6 comentários:

  1. É verdade...a fotografia teve e tem uma conotação importante na história do mundo, o que não isenta a omissão de socorro por uma vida. Ele teve uma oportunidade ímpar de salvar a sua própria vida, mas não se deu conta. Quem sabe foi sua última chance...

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  2. Vcs soh falam abobrinha, vc acha que soh tinha essa garota lá? Cada canto tinha uma criança assim. Ele ia pegar as centenas de crianças pra ajudar? Impossivel. Quem achou que foi errado por acaso saiu de casa pegou um avião pra lá pra ajudar? Soh sabem criticar.

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  3. Mas quem é que tá criticando ele aqui? Você leu direito a matéria? Os outros fotógrafos na época que o criticaram, ele até mesmo ganhou um prêmio por essa foto. Só contei a história dele e da pessoa da foto. Admiro muito o trabalho de Kevin. Você precisa ler e entender melhor as coisas.

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  4. Alexandre Rizzonoutubro 25, 2011

    cada pessoa muda o mundo do seu geito, e o geito dele era mostrando ao mundo o que acontecia lá, arriscando sua vida pra isso....

    Kevin Carter é um cara que merece muito respeito e admiração, é o que eu penso...

    vlw

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  5. que a sua alma descanse em paz!

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  6. A vida é muito breve.

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