Nos trilhos da Sustentabilidade

Leonardo Fraga Teixeira
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Você sabe o que é madeira plástica? Pois é, é um tipo de madeira só que... de plástico, hehe. Para saber tudo certinho, leia este texto, mais um que eu e o Fernando fizemos para o jornal do curso de Comunicação Social: Jornalismo, o Extra. Mostrando o trabalho que a Ferrovia Tereza Cristina realiza, criando vagões com madeira plástica. Uma ideia inovadora e sustentável, de uma das empresas mais antigas do país, que pensa no futuro do planeta.
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Texto e Ilustrações: Fernando H. Teixeira da Silva e Leonardo Fraga Teixeira
Imagem: FTC

Nos trilhos da sustentabilidade

    A humanidade está cada vez mais preocupada com a deterioração que sofre o planeta, pela falta de responsabilidade de muitos na utilização de suas riquezas naturais, que destroem o meio ambiente em nome da sobrevivência. Por outro lado, países, empresas e pessoas focam cada vez mais na sustentabilidade. Procura-se soluções para emitir menos gases na atmosfera, proteger o meio ambiente, a água, as florestas e, também, soluções para o lixo que a população acumula cada vez mais? A reciclagem é hoje a arma mais eficaz para combater esse mal.




O plástico leva anos para se decompor, e merece uma atenção especial. Uma alternativa para o destino do plástico é transformá-lo em madeira plástica. Visando diminuir o desmatamento, foi criado um novo tipo de madeira: a madeira plástica, feita de polietileno de alta densidade reciclável. Em números aproximados, para cada 700 quilos de madeira plástica, uma árvore grande adulta é preservada e também, 180 mil sacolas plásticas deixam de depredar a natureza.
    A madeira plástica apresenta diversas vantagens, como impermeabilidade superior à madeira natural, maior resistência à deterioração, ao mofo e aos cupins, e não requer pintura ou manutenção regular. Outro fator importante é que no trabalho com esse tipo de material, utilizam-se ferramentas convencionais de carpintaria, permitindo que a madeira plástica seja aplainada, serrada, aparafusada e pregada como a natural.
    Esta madeira visa substituir a natural em diversos fins, como construção de bancos de praça, escadas, corrimãos, estrados para criação de animais na pecuária, decks de piscinas, entre outros. Pensando em todos os benefícios, a Ferrovia Tereza Cristina foi além. Utilizou a madeira plástica para fazer vagões de carga. 


   A Ferrovia transporta carvão da região de Criciúma até a Tractebel em Capivari de Baixo e sua sede fica localizada no município de Tubarão. É lá que o gerente da Divisão de Manutenção, Abel Passagnolo Sérgio, atua desde o ano 2000. Inquieto com a questão dos vagões não utilizarem produtos renováveis, Abel buscou uma solução sustentável, junto de sua equipe, visando diminuir os danos ao meio ambiente, já que seu principal produto transportado, o carvão mineral é extremamente nocivo para a natureza. Abel buscou novos materiais para fazer os vagões. 
        Todos os vagões da Ferrovia eram feitos de madeiras de lei, como Cedro, Angelim ou Canela. A vida útil de um vagão com este material é de apenas dez anos, e não se pode reutilizar a madeira após o uso. Abel fez uma pesquisa para substituir essa madeira por outro material, como eucalipto, laminados, aço e fibra de vidro. “Pesquisei junto com minha equipe formas diferentes de produzir os vagões, sempre buscando o melhor para a empresa”, ressalta Abel.
        A fibra de vidro custava caro e sua reciclagem é difícil de ser feita, portanto, não tinha condições de ser mantida. Depois de várias experiências, ele encontrou o polietileno de alta densidade reciclável, o material que compõe a madeira plástica. Foi em uma feira ferroviária no Rio de Janeiro que Abel conheceu um produtor deste material, que o utilizava em menor escala, para a construção de bancos, decks e o interesse da Ferrovia era ter o mesmo material em tamanho maior, para a construção dos vagões. Após algumas conversas, a empresa topou fazer as peças necessárias para a ferrovia.
    

     Foi criado então um projeto interno na Ferrovia para a implantação desse novo produto, sendo criado um perfil gerencial para apresentar para a direção da empresa, ressaltando os pontos fortes e fracos de utilizar a madeira comum e a madeira plástica. “Eu e minha equipe estávamos empenhados em levar o projeto adiante. Organizamos tudo o que precisávamos, colhemos dados e passamos adiante a papelada”, revela Abel.
    O principal fator para não utilizar a madeira é a questão de que ela não é reciclável. Não é auto-sustentável e a sua vida útil é limitada. O uso do plástico encarecia em 15% a reforma de um vagão, em relação a madeira de lei. Mas em longo prazo, o plástico mostrou-se mais vantajoso, pois a vida útil do vagão seria dobrada: depois de dez anos, o plástico poderia ser reutilizado, sendo necessário, apenas, trocar o interior metálico do vagão, baixando custo. 





    Este fator pesou na balança à favor da madeira plástica, e o projeto foi aprovado. Foram criados dois vagões protótipos. Com o uso da madeira plástica nestes vagões, a Ferrovia achou ainda mais benefícios, pois o plástico não deforma, não cria frestas e faz o carvão deslizar melhor. “As surpresas foram muitas e acabou se mostrando ainda mais benéfico do que esperávamos”, conta Abel, e explica: “Não se usa tinta nem solvente, pois já vem com uma cor pré-definida que escolhemos, assim não polui a atmosfera. Caso estrague alguma peça, enviamos ao produtor, que a derrete e cria uma nova, reduzindo ainda mais o custo e reutilizando o mesmo material. A própria madeira plástica é retornável”, destaca Abel, sorrindo.
    A partir de 2007, a madeira de todos os vagões que viriam a ser reformados por estarem no fim da vida útil, substituída pelas peças de madeira plástica. Atualmente, a Ferrovia Tereza Cristina conta com 250 vagões, dos quais 78 já passaram pela reforma e receberam o material plástico. De 15 a 20 trabalhadores da ferrovia realizam a reforma dos vagões normais em vagões de polietileno de alta densidade. Cada reforma leva 30 dias, e inclui todo o processo de desmontar, repor peças e remontar com tábuas de madeira plástica, tudo feito oficina de vagões dentro da sede da FTC em Tubarão. Os vagões da ferrovia servem exclusivamente para o transporte de carvão.



Hoje, no Brasil não existe nenhuma outra ferrovia que utilize este tipo de material nos vagões. Porém, uma empresa fabricante de vagão chamada Maxion, esteve com um representante na FTC para pedir a permissão da utilização do modelo em um projeto. O fabricante estava concorrendo internacionalmente para fornecer vagões para a África, e uma das exigências era de que não se utilizasse madeira, e sim, materiais sustentáveis.
    Abel Passagnolo Sérgio, deixa claro que é um curioso, e foi essa curiosidade que levou a um grande projeto executado para a ferrovia. “O resultado que tivemos é muito maior do que a expectativa projetada. Se outras ferrovias tiverem interesse, ficaremos felizes em compartilhar o que sabemos. Tornamos nossos vagões mais leves. Isso resultou em menor consumo de combustível das locomotivas e maior capacidade de carga dos vagões. Atingir o objetivo que eu buscava e melhorar substancialmente a empresa onde eu trabalho é muito gratificante, profissionalmente e pessoalmente, para mim e todos os colegas que trabalharam juntos no projeto. Todos na ferrovia estão de parabéns pelo trabalho realizado”, finaliza Abel.




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