Este é um dos textos que eu e o Fernando fizemos para o jornal do curso de Comunicação Social, o Extrra. É uma belíssima e emocionante história, que compartilho aqui com vocês. A história dessa pessoa simples e batalhadora, o Seu Zé.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por Fernando H. da Silva Teixeira e Leonardo Fraga Teixeira
Tesouro de Outro
Seu Zé, na frente de sua casa. Seu sorriso nunca sai do rosto, é alegre e boa gente o tempo todo. |
Em uma rua no centro de Tubarão, as casas nobres da vizinhança quase escondem uma moradia que define perfeitamente bem um grande contraste social no Brasil. Em meio a belos jardins e janelas espelhadas, a casa de José Antônio Venâncio Machado, o seu Zé, faz com que as casas vizinhas desapareçam. O motivo é a enorme pilha de garrafas, plásticos, isopores, metais e papelões que invade toda a calçada e quase passa do telhado da simples residência de seu Zé.
A escada que leva até a porta é estreita e alguns dos papelões tapam os degraus. A porta aberta revela o simpático José, terminando seu café da manhã e se preparando para mais um dia de jornada. Baixinho, com um rosto cansado, mas com um grande sorriso. Tem 80 anos, aposentado e ganha um salário mínimo. Ainda ajuda a ex-mulher e filhos, que moram em uma casa ao lado. Eles nunca o ajudaram, "como dizia a minha mãe, um pai ajuda cinquenta filhos, mas cinquenta filhos não ajudam um pai", fala o velhinho que tem um enorme coração e mesmo passando muita dificuldade, mantém sempre o sorriso simples, modesto e com poucos dentes.
Entrar na casa nem pensar, da porta já se vê que a situação do lado de dentro é ainda mais alarmante. Imaginamos que uma pessoa como o seu Zé, que trabalha o dia inteiro, vive sozinho, não tem tempo para organizar a casa. A sala, que também é cozinha e quarto, está repleta de tralhas. A mesa coberta de potes, comida e o armário na parede cheio de objetos que ele vai achando e trazendo da rua. O cobertor e suas roupas também ficam espalhados neste cômodo, aliás, sequer dá para saber se tem outro cômodo. Seu Zé dorme em uma "poltrona do papai", pois afirma que "se durmo em um colchão muito mole, minha coluna dói, acordo todo duro".
Há trinta e cinco anos, seu Zé coleta material reciclável. Sai de casa as oito da manhã e não tem hora para voltar. Com uma saúde de ferro, sua única reclamação, são as dores na coluna, pudera, carrega de 50 a 100 quilos por dia em um pequeno carrinho e consegue a maioria do material reciclável em lojas de móveis e eletrodomésticos, que jogam fora caixas grandes, como as de TV e fogão. O material coletado é vendido para uma empresa que fica no bairro São Martinho. "Eles vem com um caminhão e levam o material que eu trago, já separado", explica seu Zé. O quilo do papel custa R$ 0,30, a latinha R$ 2,00 o quilo e o plástico R$ 0,50. Seu Zé diz que não chega a R$ 500,00 tudo o que coleta durante o mês.
Sua ex-mulher faz pão caseiro com os ingredientes comprados por ele, "não gosto de comer o pão da padaria" conta mostrando um pedaço do pão feito em casa. As roupas e cobertas, ele compra também, "faço tudo a prestação. Fome e frio não passo", falando isso seguido de um sorriso e uma gargalhada. Nunca teve vícios e é muito apegado a religião, "sou crente, e só não prego as escrituras porque não sei ler" fala novamente rindo. Seu Zé diz que não estudou nem um dia, mas, se tivesse estudado, conta que faria Administração. O motivo para a escolha de seu Zé é simples e ele mesmo explica. “Para qualquer coisa que caísse na minha mão eu soubesse cuidar". Nem precisa, já cuida muito bem do pouco que tem mesmo desorganizado.
Não tem rádio nem televisão, mas sabe tudo o que está acontecendo no país e no mundo, pelas conversar que tem por ai. Gosta muito de falar, um possível resultado da solidão. Seu Zé diz que o Brasil poderia ser bem melhor, o que falta é uma boa administração, pois sempre vendem as riquezas do país. "Venderam a Serra Pelada para os americanos. O minério para os europeus e só não venderam o povo, porque aí não teria ninguém para trabalhar pra eles", enfatiza bem humorado, mas com um tom de seriedade.
Os vizinhos não gostam do lixo acumulado na frente da casa dele. “Uma das vizinhas, uma vez até chamou a polícia, mas eu mandei ela plantar batata", fala indignado o velhinho que já trabalhou de vigia também, cuidando de dez casas nas redondezas. De dia catava material e de noite era vigia, por isso este "bico" durou apenas um ano e dois meses.
Seu Zé é uma pessoa que tem tanta história pra contar, que daria para se escrever um livro, mas em um país como o nosso, quem teria o interesse de ler? Aqui, o pobre não tem voz, e se não fosse a pilha de materiais recicláveis em frente à casa dele, mal apareceria. Falando em livro, pessoas como o simples e cativante Zé, não podem ser julgadas pela capa, pela casa, ou pelo trabalho, diga-se de passagem, o trabalho de catador é importante. Sempre com muita alegria e simpatia, seu Zé é assim. Simples. É um brasileiro sofrido, mas feliz, pois sabe que a maior riqueza que pode ter é a própria vida, o que deixa ainda mais claro que é brasileiro.
Há trinta e cinco anos, seu Zé coleta material reciclável. Sai de casa as oito da manhã e não tem hora para voltar. Com uma saúde de ferro, sua única reclamação, são as dores na coluna, pudera, carrega de 50 a 100 quilos por dia em um pequeno carrinho e consegue a maioria do material reciclável em lojas de móveis e eletrodomésticos, que jogam fora caixas grandes, como as de TV e fogão. O material coletado é vendido para uma empresa que fica no bairro São Martinho. "Eles vem com um caminhão e levam o material que eu trago, já separado", explica seu Zé. O quilo do papel custa R$ 0,30, a latinha R$ 2,00 o quilo e o plástico R$ 0,50. Seu Zé diz que não chega a R$ 500,00 tudo o que coleta durante o mês.
Sua ex-mulher faz pão caseiro com os ingredientes comprados por ele, "não gosto de comer o pão da padaria" conta mostrando um pedaço do pão feito em casa. As roupas e cobertas, ele compra também, "faço tudo a prestação. Fome e frio não passo", falando isso seguido de um sorriso e uma gargalhada. Nunca teve vícios e é muito apegado a religião, "sou crente, e só não prego as escrituras porque não sei ler" fala novamente rindo. Seu Zé diz que não estudou nem um dia, mas, se tivesse estudado, conta que faria Administração. O motivo para a escolha de seu Zé é simples e ele mesmo explica. “Para qualquer coisa que caísse na minha mão eu soubesse cuidar". Nem precisa, já cuida muito bem do pouco que tem mesmo desorganizado.
Não tem rádio nem televisão, mas sabe tudo o que está acontecendo no país e no mundo, pelas conversar que tem por ai. Gosta muito de falar, um possível resultado da solidão. Seu Zé diz que o Brasil poderia ser bem melhor, o que falta é uma boa administração, pois sempre vendem as riquezas do país. "Venderam a Serra Pelada para os americanos. O minério para os europeus e só não venderam o povo, porque aí não teria ninguém para trabalhar pra eles", enfatiza bem humorado, mas com um tom de seriedade.
Os vizinhos não gostam do lixo acumulado na frente da casa dele. “Uma das vizinhas, uma vez até chamou a polícia, mas eu mandei ela plantar batata", fala indignado o velhinho que já trabalhou de vigia também, cuidando de dez casas nas redondezas. De dia catava material e de noite era vigia, por isso este "bico" durou apenas um ano e dois meses.
Seu Zé é uma pessoa que tem tanta história pra contar, que daria para se escrever um livro, mas em um país como o nosso, quem teria o interesse de ler? Aqui, o pobre não tem voz, e se não fosse a pilha de materiais recicláveis em frente à casa dele, mal apareceria. Falando em livro, pessoas como o simples e cativante Zé, não podem ser julgadas pela capa, pela casa, ou pelo trabalho, diga-se de passagem, o trabalho de catador é importante. Sempre com muita alegria e simpatia, seu Zé é assim. Simples. É um brasileiro sofrido, mas feliz, pois sabe que a maior riqueza que pode ter é a própria vida, o que deixa ainda mais claro que é brasileiro.
Seu Zé. Este sim, TEM PREGUIÇA NÃO! |
Vamos lá pessoal. Sua opinião é muito importante. Tem Preguiça Não de comentar.