CHUVA NEGRA
Por Vinícius Santos
Capítulo 5
Uma manchete perturbadora
- Perdão, mas não me apresentei – Disse novamente a mulher, agora num tom mais sério, ela notou que Julian ficou imóvel e sem resposta. – Sou Summer Patel, investigadora responsável pelo caso. Não sei se estou certa, mas o senhor é Julian Bane, não é mesmo?
Como se estivesse numa outra dimensão, Julian não falou nada, estava muito transtornado com a situação: acabara de ver seu amigo brutalmente esfacelado no chão, cercado de legistas, e mesmo assim não conseguia segurar seu impulso bastardo, estava completamente embriagado pela presença daquela mulher. Ela aparentava ter uns vinte e tantos anos, talvez até jovem demais para sua profissão, sem dúvidas, era uma mulher reluzente e apesar de todo aquele ambiente macabro, Julian não conseguia focar em nenhuma outra coisa a não ser ela. Quem sabe seria até um sacrilégio um ser tão gracioso estar naquele lugar fétido e sujo. Mas por um breve momento sua mente voltou-se para aquela situação, para aquele beco onde seu amigo jazia, toda aquela merda que o envolvia, o corpo de Oscar jogado no lixo, como se fosse um pedaço de carne podre. Todas aquelas marcas pela rua, expostas para todos que quisessem um souvenir de um assassino doentio. Julian guardou o envelope que ainda segurava em suas mãos e então se virou mais uma vez para aquela mulher, encarando-a nos olhos com um olhar vazio, frouxo. Não queria estar mais ali entre o céu e o inferno, ignorou-a e seguiu para encontrar Dr. Chandau. Estava penetrado nos seus pensamentos, como se fosse o lugar mais seguro do mundo.
- Bom, não quero ter que apelar pro meu distintivo, senhor. – Forçou mais uma vez a mulher.
- Não será preciso. – Julian irrompeu o silêncio, encarando a investigadora mais uma vez. – Só preciso sair daqui, mademoiselle.
- Nota-se que o senhor está transtornado, mas temo em lhe dizer que gostaria de fazer algumas perguntas, nada muito grave, apenas quero saber quais foram os últimos passos de Oscar antes de acabar ali.
Julian mais uma vez continuou a andar, causando certa irritação na impaciente Summer Pattel. Ela tentou gritar para que ele parasse, mas percebeu que seria em vão, o escritor já havia dobrado a esquina e logo Summer tratou de ir atrás. Antes de entrar no jornal, o escritor notou que a multidão de pessoas tinha de dispersado – o circo de horrores perdera a graça. No hall de entrada do prédio, estavam alguns parentes de Oscar ainda em estado de choque, amparados por enfermeiros e num canto mais afastado ele notou Madame Marrie, num jeito apático, estava pior que qualquer pessoa ali, provavelmente tomou altas doses de algum calmante. Julian se aproximou dela, mas não falou nada, apenas agachou na sua frente e pôs sua mão sobre a dela, soltando um sorriso um tanto amarelado. A coitadinha não parecia nem um pouco com aquele leão infernal que controla com punhos de ferro o dia-a-dia do jornal. Naquele instante, a voz de Summer surgiu de novo no salão.
- Ela esta bem, Senhor Julian, já foi medicada e agora precisa descansar um pouco. Marrie foi a primeira pessoa a chegar ao local.
- Você já a interrogou?
- Ainda não, ela está muito abalada, mas já falei com algumas pessoas no jornal. Gostaria de falar com o Senhor, agora.
- Antes preciso checar uma coisa, perdão.
Sem hesitar, Julian saiu mais uma vez em disparada, deixando Summer pra trás. Lembrou-se do ultimo pedido que havia feito ao amigo. Subiu as escadas o mais depressa que podia, na verdade, seu corpo sedentário só trabalhava daquele jeito nos momentos de tensão. Ao chegar no terceiro andar, já estava totalmente sem fôlego. O lugar estava completamente vazio, provavelmente Chandau dispensou todos os funcionários, não deu muita importância para isso. Seguiu a passos largos até sua mesa e lá encontrou um bilhete do Oscar sobre uma pasta de arquivo recheada com folhas. O bilhete dizia que aqueles foram os únicos arquivos encontrados sobre o incêndio que aconteceu no laboratório, antes disso, não havia se quer uma notícia sobre aquele lugar. Realmente eram poucas folhas, talvez por ser uma unidade militar. Julian apanhou a pasta e começou a folhear com cuidado as páginas que Oscar havia encontrado, eram folhas bem amareladas de jornais e folhetins. Nas notícias não havia nada de relevante, a maioria delas eram apenas poucos parágrafos informando sobre uma tragédia ocorrida. Outras notícias ainda falavam que aquela era uma unidade militar responsável por produção de armas e explosivos. Tudo aquilo não era de nenhuma relativa importância, tanto é que não havia uma explicação para o motivo do tal incêndio. Julian sentiu-se um tanto frustrado, principalmente pelo trabalho de Oscar ter sido em vão. Sentou-se e largou a pasta, encostou-se para trás e massageou a testa, buscando uma ligação sobre os atuais acontecimentos e aquelas páginas de jornal envelhecidas. Nada era claro. Levantou mais uma vez a pasta para analisar tudo novamente, quem sabe algo teria passado despercebido. Foi então que caiu no seu colo um recorte menor de uma página. Aquilo não poderia ser mais esclarecedor – ou perturbador. Naquela pequena manchete estava a foto da equipe responsável pelo laboratório. Vários homens de terno militar, e no meio deles, estava o homem que atormentava os sonhos de Julian. A foto que estampava a noticia era a mesma que ele recebeu naquele maldito envelope.
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O Blog Tem Preguiça Não (www.tempreguicanao.com.br) orgulhosamente traz até você o conto “Chuva Negra”, escrito por Vinícius Santos. A cada edição de Terça-Feira do O Grande Jornal, você acompanha a história de Julian Bane, um Ghost-Writter decadente, que vê um de seus contos de terror tornar-se real numa madrugada chuvosa. Uma corrida desesperada começa e na sua trilha: um personagem nefasto de sua própria criação. O personagem principal conduz os leitores pela velha cidade de Paris no início do século XX, numa trama de suspense e aflição, onde o real e o sobrenatural envolvem-se misteriosamente.
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Sobre o Autor
Vinícius Santos nasceu em Imbituba, Santa Catarina, no ano de 1990. Escritor iniciante tornou-se conhecido por publicar esporadicamente seus textos na web e notumblrBoemia Letrada. Bastante influenciado por grandes nomes como Carlos Ruiz Záfon e Stephen King, busca resgatar o dom de contar histórias de suspense e mistério.
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